1. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

O objetivo principal deste relatório é trazer ao conhecimento da sociedade e, principalmente, aos atores envolvidos nesta cadeia, a realidade deste sistema, mostrar as nossas vivências e experiências, fundamentadas no conhecimento acadêmico e empírico para a estruturação, operação e melhorias de sistemas de gestão de resíduos no município de Veranópolis (RS).

Nosso modelo de negócio, pautado no real desenvolvimento social, vem sendo o nosso diferencial para atravessar as dificuldades impostas pelo sistema perverso de manejo de resíduos existente, pela sociedade e pelo mercado.

Embora o advento da Usina de Triagem aqui de Veranópolis tenha um período de apenas 8 para 9 meses, já podemos chancelar as pesquisas de mais de 6 anos do nosso fundador Alessandro Scherer no que diz respeito a “negócio social e ambiental”. Chancela que será demonstrada no decorrer deste Relatório.

Antes, contudo, de adentrarmos no escopo deste Relatório, consideramos relevante uma breve contextualização do cenário atual que envolve questões ambientais em nível nacional e mundial.

No que diz respeito aos dados sobre resíduos sólidos urbanos, estudo publicado pelo IPEA apresenta estimativas que apontam para uma geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil em torno de 160 mil toneladas diárias - 30% a 40% desse montante são considerados passíveis de reaproveitamento e reciclagem. Um setor ainda pouco explorado no país, apenas 13% desses resíduos são encaminhados para a reciclagem (IPEA, 2021).

Usando um item específico para exemplificar: o plástico, estudo da WWF indica que o Brasil ocupa o 4° lugar no ranking mundial de geração de Resíduos de plástico no Planeta e sua população gera em média 1 Kg deste resíduo ao dia por habitante e, de acordo com estes mesmo estudo, não reciclamos nem 3% deste total. Restando para a natureza cerca de 30,6 % deste montante em matérias sintéticas e 45% de matéria orgânica que poderia ser aproveitado como fonte de energia renovável (WWF, 2019).

São números e índices alarmantes. Contudo, não queremos usar este espaço para ficar relatando o que todos nós já sabemos e, sim, em conjunto com todos os interessados, nos debruçarmos acerca de esforços para juntos podermos dar um novo destino às nossas cidades, estados, países e porque não dizer ao nosso planeta e sermos reconhecidos como geradores de soluções.

Soluções pautadas na busca pelo desenvolvimento sustentável das cidades, metrópoles, regiões metropolitanas e regiões com grande densidade demográfica, como é o caso da serra gaúcha. Salientamos que o princípio fundamental destas soluções é o desenvolvimento socioeconômico das populações vulneráveis e de baixa renda que tem sua ocupação e renda com base na coleta e triagem para encaminhamento à reciclagem de resíduos sólidos urbanos. Focados, portanto, em soluções, se pode afirmar que existem hoje, pelo menos quatro ferramentas (instrumentos de mudança) primordiais e, surpreendentemente, de simples aplicação e totalmente viáveis financeiramente, se seguidos à risca. São eles: 1. Lei 12.305 que institui A Política Nacional de Resíduos Sólidos (baseada no PLANARES); 2. Lei 14.026 que institui O Marco Nacional do Saneamento Básico; 3. Lei 13.089 que institui o Estatuto da Metrópole, que altera a Lei 10.257 e dá outras providências; 4. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Tais ferramentas buscam o que podemos julgar “cernes” deste movimento e por isso que essas ferramentas, se seguidas à risca, solucionam em cadeia 99% dos problemas do planeta, inclusive e muito mais vigorosamente e rapidamente aqui no Brasil. Essas ferramentas ressaltam a importância no início de qualquer que seja o projeto da valorização do “Resíduo” como instrumento de geração de ocupação e renda tornando as populações mais vulneráveis “atores principais” e porque não dizer os “salvadores da pátria” devidamente valorizados no tocante a sua representatividade no processo de solução deste problema, como realmente já o são há muitos anos. Importante mencionar que 80% do que se recicla no Brasil é proveniente do trabalho árduo e ininterrupto dessa categoria de trabalhadores.

Desta forma, é explícito que a união de esforços “públicos” inicialmente, no encorajamento e apoio irrestrito de organização, estruturação e capacitação destes heróis da sustentabilidade e da iniciativa privada, em um segundo momento, para absorverem esta matéria prima de triplo valor: comercial, social e ambiental, em sua indústria de transformação é o caminho sem volta a se seguir.

É notório que o Brasil, assim como em outros lugares do mundo, vem negligenciando e marginalizando os principais responsáveis pelo pouco que é reaproveitado e reciclado, sem qualquer apoio que exerça a geração de capacidades individuais e coletivas, ao contrário disso, na grande maioria das vezes, são comercialmente explorados, sob regime de trabalho totalmente avesso ao que se entende por dignidade humana. Esta categoria precisa que o poder público simplesmente cumpra os requisitos das ferramentas citadas.

Na contramão da sustentabilidade, o que vemos são grandes empresas com privilégios na “coleta seletiva” e que, na sua grande maioria, não priorizam em nada os chamados “catadores”. Infelizmente o que é visível é o encaminhamento do “lixo” urbano aos lixões a céu aberto ou à “aterros controlados”, obrigando os profissionais marginalizados a uma exposição ainda maior à riscos à saúde e intempéries de um país subtropical, devastando ainda mais sua dignidade. O desconhecimento de direitos pela imensa maioria dos “catadores” os coloca na posição permanente de “reféns” do mercado tradicional e, principalmente, pelo poder público, por desvalorizar o trabalho da ponta de baixo, mais fragilizada socialmente, que por fim, acaba por se contentar com as migalhas que levam para a mesa de sua família ao fim de um dia extenuante de trabalho.

Se pode depreender que as ferramentas propostas pelas instituições governamentais e mundiais apontam para o fomento de associações e cooperativas de trabalho dos “catadores” como a alternativa mais adequada para a geração de renda e erradicação da pobreza. Ao nos debruçarmos no entendimento do proposto por essas normas, leis, objetivos, diretrizes e requisitos, foi possível perceber que a implementação de uma cooperativa bem estruturada e com cooperados bem assistidos em suas necessidades mínimas de trabalho atende diretamente a pelo menos 9 dos 17 ODS e pelo menos 5 indiretamente. Além de atender às Leis 12.305 e consequentemente as demais Leis aqui citadas.

Importante enaltecer que os 17 ODSs comungam com os princípios e valores do cooperativismo e, se os empreendimentos cooperativos são reconhecidos como capacitados a promover a sustentabilidade, talvez seja o momento de fortalecer negócios cooperativos.

Conforme Schneider (2015) o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas declara o reconhecimento de que empreendimentos como associações e cooperativas são consideradas propulsoras do desenvolvimento sustentável, em especial pelo compromisso com as pessoas, com recorte às mais pobres.

Está prevista uma série de investimentos públicos, via BNDES e CEF, por exemplo, no intuito de criar, estruturar e capacitar cooperativas e associações Brasil afora. Porém, acreditamos que por falta de conhecimento e por protecionismo do mercado atual, existem pouquíssimas cooperativas operando com esses fomentos em funcionamento, em vista do que poderiam existir e da quantidade de “matéria prima” (recicláveis e reutilizáveis) que temos a disposição e que diariamente estão sendo literalmente enterrados por todo o Brasil, por estas grandes empresas que se dizem “seletivas”.

É essa cultura que precisamos implementar neste momento, são esses “HERÓIS” que devemos valorizar agora, é para esses verdadeiros cuidadores da natureza e das nossas cidades que devemos voltar nossos olhares, e direcionar investimentos. Comprovadamente sabe-se que os melhores materiais recicláveis que chegam às indústrias de transformação passam pelas mãos destes agentes da sustentabilidade, mas muito pouco de renda fica nessas mãos trabalhadoras e salvadoras do ambiente.

1.1. Casos de sucesso a partir de input público e privado

Caso 1: Programa de Gestão de Resíduos Sólidos da Itaipu Binacional

Por meio do projeto de Expansão das Unidades de Valorização de Resíduos (UVRs), beneficiará mais 50 municípios paranaenses. Eles foram selecionados entre os 80 que se inscreveram e se enquadram nos requisitos estabelecidos por Itaipu para atender o projeto. Os aprovados passaram por uma análise criteriosa, que incluiu visitas de campo de técnicos da Itaipu e do Parque Tecnológico Itaipu (PTI).

A expansão das UVRs faz parte das ações previstas no Programa Itaipu Mais que Energia. Todos receberão apoio de Itaipu para a estruturação de seus programas municipais de coleta seletiva. A expectativa é que as novas UVRs beneficiem 3,15 milhões de paranaenses.

Os 50 municípios selecionados nesta nova fase receberão recursos para apoiar a gestão das associações e a estruturação das atuais unidades com todos os equipamentos necessários, como prensa e esteira, caminhão para coleta, além de divulgação de campanhas de educação ambiental.

A gestão de resíduos sólidos atende à questão ambiental, com a estruturação da cadeia de detritos recicláveis dos municípios, mas principalmente gera impactos positivos às cooperativas e associações de catadores, contribuindo de forma significativa para a melhoria da qualidade de vida desses trabalhadores e trabalhadoras.

Caso 2: Centro de Triagem de Resíduos Sólidos: uma mudança social em prol do meio ambiente

A Associação dos Agentes Ambientais de Santa Helena, “Amigos do Meio Ambiente", tornou-se referência na região da Bacia do Paraná III no que se refere à coleta seletiva e destinação final de materiais recicláveis. O município de Santa Helena foi o primeiro a assinar o contrato de prestação de serviços com os catadores, a partir do Programa de Coleta Solidária da Itaipu Binacional. Desde então, passou-se a pagar pelo serviço de triagem dos materiais, além da venda dos materiais. Acompanhe nos depoimentos acima, a mudança gradativa que houve no município, a partir da implantação de uma Centro de Triagem de Resíduos Sólidos, que, além de fazer a manutenção de uma cidade limpa, mantém a casa de mais de 40 famílias com muita dignidade e esforço.

2. A USINA DE TRIAGEM DE VERANÓPOLIS: CONTEXTUALIZAÇÃO

Nos últimos meses não estamos medindo esforços para a alavancagem de empreendimentos sustentáveis em seus aspectos ambientais, sociais e econômicos, com foco nas Leis 12.305 de 2010 que trata da Política Nacional dos Resíduos Sólidos em consonância com a nossa Lei 14.864 de 2016 que institui a Política Estadual do Biometano.

Obviamente que em nosso trabalho diário consideramos as demais leis relacionadas ao escopo dos nossos projetos aqui no RS e nos diversos estados do Brasil.

Salientamos que o projeto planejado, estruturado e executado a partir de 02/05/2023 em Veranópolis, desde o seu início teve o intuito de atender todos os requisitos básicos aqui mencionados, justamente para fazer cumprir as obrigações dos três setores da sociedade.

Neste período alcançamos números inimagináveis no cenário atual para a grande maioria dos municípios Brasil, neste relatório iremos explorar esses números e como não poderia deixar de ser projetar o ano de 2024 e os próximos anos da UT Veranópolis e das próximas Usinas que se seguirão a partir desta experiência.

Infelizmente, nos cabe registar, que nos defrontamos com uma gestão pública em condições desfavoráveis para resolução das questões cotidianas que envolvem o bom funcionamento das instituições garantidoras dos direitos básicos da população. Por outro lado, em nossas incursões a instituições públicas, de pesquisa e formadoras de opinião (municípios e consórcios dos mesmos) e privadas (propriedades rurais e urbanas grandes, médias e pequenas) temos percebido que existe por parte destes atores grande interesse em se aplicar as leis previstas e que estamos caminhando a passos largos para a conscientização coletiva para a solução adequada destes problemas socioambientais.

Diante da realidade que estamos vivendo, nos sentimos no dever de nos dirigirmos aos interessados para relatar o que de fato acontece no cotidiano dos ditos “empreendimentos sustentáveis” do nosso estado. Ao presenciar a forma como estes empreendimentos se movimentam, quanto a apresentação destas soluções, percebemos a necessidade de que haja caminhos burocráticos para que sejam aprovados projetos que façam real sentido e, portanto, tragam soluções aos municípios. Tais soluções passam por uma reversão de um quadro perverso de estagnação e apropriação do poder de grupos de interesse que foram absorvidos por este sistema que beneficia tais elites em detrimento de toda uma população e espaço territorial que já não consegue mais absorver o ônus gerado por estes status quo que ignora a necessidade de reversão deste quadro.

Nesse sentido, nosso entendimento é de que novas tecnologias como o caso de plantas de triagem, compostagem e de reatores de Biodigestão para obtenção de gás metano e suas outras diversas vantagens e ganhos no campo ambiental, social e econômico ainda não foram bem disseminadas entre os órgãos avaliadores formadores de opinião e que detém por vezes a liberação e o licenciamento dos empreendimentos referidos em nossas leis. Percebe-se, inclusive, em documentos e diretrizes oficiais dos mesmos órgãos, o entendimento de que, apesar de se tratarem de processos ainda não bem resolvidos no estado e no país, são a única alternativa e a mais sustentável no tratamento de resíduos urbanos e agroindustriais. Alguns destes documentos inclusive incorrem em contradição de outros dos próprios órgãos licenciadores. Entre estas alternativas podemos ressaltar as tecnologias com base no tratamento térmico de resíduos como é o caso da “pirólise” que não está completamente definida como uma tecnologia que traga o melhor custo benefício a nossa sociedade diante de nossa realidade (CONAMA, 2018).

Em termos práticos o fato é que precisamos que estes órgãos entendam e passem a interagir com as leis referidas, sob pena, de não conseguirmos alavancar projetos que realmente tragam desenvolvimento sustentável ao nosso município, microrregião e estado que carece destes movimentos nesta direção, bem como já acontece em outros estados do nosso país e em diversos países do mundo.

Desta forma, nos colocamos a disposição para compartilhar informações relevantes a esta retomada e pedimos uma agenda permanente com todos os órgãos e instituições envolvidos nesta temática para tratarmos de estratégias construídas de forma coletiva e principalmente com a participação desta categoria para dar andamento a uma disseminação mais objetiva e efetiva do que realmente as tecnologias já disponíveis e nacionalizadas (inclusive regionalizadas) podem agregar ao nosso município no âmbito do sistema integrado e holístico de gestão de RSU, como solução do passivo ambiental, geração local de energias sustentáveis, geração de insumos importantíssimos para o nosso agronegócio e reversão do quadro de vulnerabilidade social, inclusive risco alimentar, que envergonha municípios da serra gaúcha com elevado IDH.

De acordo com o Ministério de Meio Ambiente MMA e seu sistema nacional integrado - SINIR, cerca de 1,07 Kg de resíduo é gerado por dia por habitante no Brasil (kg/per capita/dia), segundo este estudo e trazendo para o universo de Veranópolis em 2023, chegamos à conclusão que o município com os seus 24.021 habitantes de acordo com o último Censo de 2020 do IBGE, produziu em 2023 diariamente 25.702,47 kg de resíduos, ou seja, mensalmente geramos em média 771,07 toneladas de resíduos domiciliares. De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos do Brasil de 2022, que é o mais atualizado, a fração reciclável corresponde a 33,60 % deste total.

Tendo como base dados oficiais e estatísticos dos órgãos competentes, estima-se que município de Veranópolis gera atualmente, em se falando de resíduos domiciliar, algo em torno de 259.080 kg de resíduos reutilizáveis ou recicláveis mensalmente, o que tranquilamente justifica a existência de um Usina de Triagem (UT) de resíduos em seus aspectos técnicos, sociais e econômicos.

Como é do conhecimento amplo de todos o município tem “Coleta Seletiva” desde 2001, porém, como já salientamos em outros estudos, desde o início de nossas inserções no município, fica explícito que essa coleta seletiva apresentava aproveitamento incipiente e sem qualquer tipo de medição ou mensuração de efetividade. O que significa dizer que a gestão municipal não consegue gerar métricas que comprovem o cumprimento das diretrizes legais de destinação dos seus resíduos.

De acordo com as legislações e ordenamentos jurídicos da área ambiental é preciso e necessário que o município apresente ferramentas e instrumentos de medição de sua efetividade na gestão de resíduos, assim como em outras áreas de saneamento básico. Indicadores necessários para obtenção de repasses de recursos para investimentos públicos estaduais e federais, principalmente a partir de 2020 com o advento do Marco do Saneamento Básico - Lei n°14.026.

No entanto, até maio de 2023, ou seja, 22 anos após a implementação da coleta seletiva, o município não contava com qualquer métrica ou informação segura do que efetivamente estava sendo encaminhado para a reciclagem dos resíduos reutilizáveis ou recicláveis gerados no município. Impossível não estabelecer uma ligação com os clássicos ensinamentos de Peter Drucker, o pai da administração moderna: “O que não é medido, não pode ser gerenciado” (DRUCKER, 2003).

É, em função desta máxima que construímos dentro do dia a dia, em torno da realidade diária de recebimento e processamento dos resíduos oriundos desta coleta, de já 22 anos, uma quantidade extremamente significativa de dados e informações relevantes para que além do gerenciamento de nossa unidade de triagem de resíduos pudéssemos direcionar os nossos próximos passos dentro da busca e em conjunto com a gestão pública de um sistema holístico de gestão socioambiental de resíduos eficiente dentro do município.

Neste processo identificamos e balizamos disfunções da gestão pública em relação a esta temática, bem como dificuldades desta operação de negócio e da atividade de triagem e reciclagem de resíduos. São falhas de Estado que precisam ser explicitadas para o bem de um projeto de intervenção.

Uma das principais falhas deste sistema é a falta de conhecimento por parte da gestão pública do “negócio resíduos”, seus operadores, gestores concursados ou de cargos de confiança não têm a menor ideia do que se trata a “gestão sistêmica do manejo dos resíduos” e desconhecem quase que a totalidade da legislação vigente sobre a temática.

Alguns dos detentores do poder de decisão, por falta de conhecimento, acabam que, por medida de segurança e de proteção de seus próprios cargos, e, até mesmo por condições políticas, incorrendo em obstrução da determinação da legislação e geram entraves desnecessários ao desenvolvimento ambiental, econômico e social do município.

Fato é que existe ineficiência do serviço em função do despreparo da gestão, e quando algum profissional habilitado e preparado para a execução de boas práticas se propõe a ser agente do processo, é literalmente engolido por este sistema. Nos permitam advertir a existência de um círculo vicioso de “apagar incêndios” da gestão pública na medida de populismo de conveniência eleitoreira. São estruturas que geram toxicidade e inibem projetos e investimentos de curto, médio e longo prazo.

Dentro desta realidade perversa, algumas das atividades privadas como a nossa própria, acabam tendo diversos problemas desnecessários no decorrer da operacionalização. Percebemos que nossa conduta técnica e totalmente embasada na legislação em âmbito federal, estadual e municipal e em consonância com as diretrizes do “Mercado Verde” acaba gerando desconforto àqueles que se dizem “especialistas” no assunto.

Nossa função dentro do município tem sido a busca incessante por melhorias no sistema, trazendo tecnologias atualizadas, parcerias de fundamental importância para a devida destinação dos resíduos, valorização desta mão de obra tão marginalizada há décadas e uma gestão que garanta um sistema sustentável, que traga um meio ambiente equilibrado para todos nós e para as futuras gerações de Veranópolis e da nossa região.

A despeito deste quadro que apresenta diversas dificuldades dentro e fora da UT, com atores de dentro de nossa operação, até mesmo aqueles que fizeram parte e saíram e muitos atores sem conhecimento do tema, mas que se julgam “especialistas”, é fato que avançamos mais em 8 meses do que não foi feito em 22 anos desde o advento da “Coleta Seletiva”.

Nossa operação passou por um período de ajustes e correções, conforme preconizado em nosso projeto. Iniciamos nossa operação no dia 02 de maio de 2023 em meio a maior baixa da história de valores pagos a matéria prima secundária, nosso produto principal. Operamos sem qualquer pagamento pelos serviços ambientais prestados durante os 3 meses iniciais, investimos em máquinas e equipamentos, qualificação de associados, treinamentos dentro e fora da cidade, criamos e nos comprometemos com grandes parcerias do setor como FOX, Tetra Pack e Ambipar, para que pudéssemos alcançar a produtividade que iremos lhes apresentar na parte 3 deste Relatório.

Nosso comprometimento com as questões sociais e ambientais nos levaram a não pensar em desistir em um só momento, nosso modelo de negócio social bem estruturado nos balizou até aqui e as dificuldades se apresentam e sempre vão se apresentar para qualquer empresa e certo, o efetivo, o que apresenta resultados positivos às comunidades locais e regionais, que impacta o maior número de pessoas possível e que se diferencia por ser uma cooperativa com prática cooperativista, uma vez que o cooperativismo é visto e reconhecido mundialmente como o único modelo de negócios capaz de gerar resultados pautados na sustentabilidade.

Buscamos a excelência diariamente, mesmo que as condições econômicas sejam adversas, continuamos!

E é em função de nossa resiliência e foco em um propósito que temos um índice de aproveitamento de resíduos reutilizáveis e recicláveis invejável para a grande maioria dos municípios incluindo capitais por este Brasil a fora.

Nossa prática coletiva reforça que o resultado não é só da Cooperciclo, mas de todo um município, da própria gestão pública que a partir de um determinado momento entendeu nossa seriedade e profissionalismo e nos ajudou no fomento e estruturação.

Nada, ou quase nada pode ser tão ESG¹ como uma Cooperativa de Catadoras e Catadores, triando resíduos e transformando em ocupação e renda aquilo que não serve mais para as outras pessoas, fazendo um trabalho ambiental que grandes players não tem interesse algum em fazer de forma real, mas de “stagramar”.

¹ O termo ESG (Environmental, Social and Governance), em português ASG (Ambiental, Social e Governança), estabelece práticas, dentro das empresas, relacionadas a questões do meio ambiente, sociais e de governança. Esses três pontos tornaram-se fundamentos imperativos para a competitividade empresarial em qualquer setor de atuação, e devem ser cada vez mais valorizados pela sociedade como um todo.

Fonte: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/como-aplicar-o-conceito-de-esg-na-sua-empresa,fdaee3ac39f52810VgnVCM100000d701210aRCRD

Nestes 8 meses iniciais de nossa operação encaminhamos para a indústria de transformação, ou seja, para a reciclagem aproximadamente 300 toneladas de resíduos do município, em sua grande maioria para empresas da região da serra, mantendo o nosso compromisso de manter essa matéria prima secundária importante em nossa região agregando valor aqui.

Neste cenário de comprometimento e profissionalismo, pela rastreabilidade que nossa operação proporciona, deixamos o município apto a apresentar números contundentes às gestões estadual e federal. Agregamos valor dentro do município e trouxemos qualidade de vida aos nossos associados da operação Usina de Triagem com mais dignidade e mais condições saudáveis de trabalho e renda.

A todos os envolvidos que apostaram no projeto e que junto com a Cooperciclo buscaram estes resultados “PARABÉNS”!

Ao reconhecer que se trata de uma caminhada coletiva, a Cooperciclo entende que poucos são os projetos apresentados no mercado, principalmente junto a gestão pública, que possuem profundidade e atendem a complexidade da gestão e do manejo de RSU, e que os municípios de modo geral precisam ter parcerias sólidas com resultados de curto, médio e longo prazo e que a grande maioria das cooperativas de triagem ou de reciclagem como são mais conhecidas nem sempre apresentam segurança operacional e jurídica para o estabelecimento de parcerias. Diante deste quadro, a viabilização desse empreendimento se deu por intermédio do secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Fernando Fracaro, que iniciou todo o processo. O Conselho Municipal de Meio Ambiente que acreditou no projeto, na figura de seu presidente Marcos Napi e de sua equipe. E, do senhor Prefeito Waldemar de Carli. O legislativo do município que aprovou por unanimidade todas as demandas apresentadas, assim como a iniciativa privada com o exemplo dos irmãos Bolivar e Jaime Mossi e a senhora Francine Fracasso da rede Frasul, bem como outros atores da área privada do município, que entenderam o projeto e a seriedade da Cooperciclo Matriz de Gestão aos quais agradecemos a confiança e o empenho de que tudo desse certo. No momento em que esses atores se envolveram e acreditaram.  Esse projeto “decolou”.

Aqui rendemos todo o nosso agradecimento em nome da Cooperciclo Matriz “Gestão” e da Cooperciclo Filial “Usina de Triagem Veranópolis” e fazemos votos de uma parceria longa e que se fortaleça a cada conquista.

No entanto, ainda temos muito a fazer, temos para 2024 o desafio de não deixar que essa iniciativa sucumba por interesses diversos. E, como sabemos, ninguém consegue fazer nada sozinho. Os setores da sociedade devem estar atentos ao que estamos executando dentro deste município e nos ajudar a evoluir e evoluir, precisamos da ajuda de todos.

Este relatório de prestação de contas serve justamente para isto. Para que todos, mesmo que com o mínimo de conhecimento deste tema entendam que o que está sendo feito dentro da Usina de Triagem Cooperciclo, não tem precedentes em nossa região.

Vamos apresentar parâmetros e cases comparativos de nossa unidade com outras parecidas no estado e fora dele, sem o interesse de menosprezar o trabalho de quem quer que seja, mas para entendermos que fizemos muito em um curto espaço de tempo e com escassez de recursos.

Vamos apontar os nossos próximos passos para essa evolução e vamos certamente precisar da ajuda e parceria de todos.

O presente relatório de atividade da Cooperciclo foi dividido entre os eixos: Econômico, Social e Ambiental.

3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS NOS EIXOS: econômico, social e ambiental

3.1. Resultados econômicos UT Veranópolis por material processado

3.2. Resultados sociais da UT de Veranópolis

Para a visualização dos resultados sociais do empreendimento, julgamos importante iniciar com um breve relato do nosso presidente Alessandro Scherer sobre as condições em que encontrou as três associações de catadoras e catadores existentes no município de Veranópolis em novembro de 2022.

3.2.1. Relato presidente Cooperciclo:

"Passei por gestões públicas organizadas que já faziam parcerias com cooperativas". Este, contudo, não é o retrato das gestões públicas da grande maioria dos estados visitados durante a fase de pesquisa do presidente Alessandro Scherer nos 6 anos que literalmente percorreu o Brasil tentando compreender a realidade ou o que está mais próximo da realidade do segmento de mercado de resíduos.

Ao chegar em Veranópolis em 2022 se deparou com um cenário bastante difícil enfrentado pelos trabalhadores da triagem dos resíduos sólidos. Estavam "organizados" em três associações em condições de abandono e imensa precariedade. A visualização que teve foi de estarem literalmente atirados em um pavilhão sem qualquer estrutura de segurança e equipamentos. Juntas estas associações processavam algo em torno de 5 Ton/mês que eram entregues à atravessadores da região, ou seja: eram explorados por estes “comerciantes”. Infelizmente esta é a realidade enfrentada pela grande maioria dos profissionais que trabalham com triagem de resíduos sólidos, seja de associações ou cooperativas. Por isso, o entendimento de que o diferencial de uma cooperativa é a gestão.

A partir da experiência adquirida com a migração das associações para uma cooperativa se pode contribuir apresentando as principais dificuldades identificadas para se montar uma cooperativa do zero:

a. engajamento de todos;

b. vencer o individualismo;

c. encontrar pessoas que entendem o negócio e abracem as dificuldades de forma profissional;

d. trabalhar por propósito; d. adquirir credibilidade de todos os envolvidos;

e. adquirir credibilidade de todos os envolvidos;

f. histórico de falta de reconhecimento da categoria profissional dos catadores e agentes de triagem;

g. sair da inércia criada por uma cultura enraizada no caritarismo que envolve o universo destes catadores;

h. atingir o entendimento da gestão pública sobre o negócio social como necessário, urgente e rentável;

i. reversão de um quadro perverso de subordinação e carência de dignidade humana;

j. verdadeiro afastamento entre teoria e prática no tema sustentabilidade; 

k. não entendimento de que a responsabilidade do resíduo é compartilhada.

3.2.2. Percepções de qualidade de vida do cooperados:

Benefícios percebidos na UT: vestiário feminino e masculino, refeitório, banheiros, EPIs, prensas, esteira, paleteiras - nível de esforço físico mínimo;

Renda: nas associações a renda média era de aproximadamente R$ 200,00 por semana quando acontecia - hoje, a medida de sua produtividade, eles têm a garantia de uma valor mínimo, insalubridade (40%), mais INSS, que permite uma aposentadoria especial - fatores que nem podiam imaginar quando estavam nas associações;

Segurança alimentar: quando ia em horário de meio dia para conversar com eles sobre a futura cooperativa observava que alguns estavam comendo somente arroz ou somente massa, outros comendo pão seco - dentro das ODS temos o objetivo que fala em erradicação da fome - segurança alimentar é obrigação! Por isso na Cooperciclo ficou estabelecido que parte da retirada será sempre em alimentos, isto porque existe uma dificuldade ainda de gestão financeira familiar - fato que colocaria em risco a segurança alimentar dos nossos cooperados. 

Banco de imagens

Associações:

Fonte: Banco de imagens Drive Cooperciclo

Cooperciclo Filial 1 - Veranópolis:

Fonte: Banco de imagens Drive Cooperciclo e https://globoplay.globo.com/v/12083551/

3.2.3. Narrativas dos cooperados no início da operação em maio de 2023

Considerando que o público-alvo da Cooperciclo são as catadoras e os catadores de resíduos sólidos que atuavam até em então em Associações formadas por eles mesmos, promovidos, a partir de seu ingresso à cooperativa em empreendedores sociais, nossa análise de impacto para o Plano de Negócios Social do empreendimento, partiu da missão da Cooperciclo que é “ Cuidar do meio ambiente por meio da valorização e especialização das pessoas na gestão de resíduos”, fomos   buscar neste grupo de atores sociais sua história de vida, conhecer sua visão de mundo a respeito da causa ambiental em que estão envolvidos e suas expectativas sobre esta nova fase da sua vida profissional como cooperados da Cooperciclo.

A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas gravadas com utilização de questões norteadoras desenvolvidas em três categorias de análise: a cultura de cuidado e preservação do planeta; percepção sobre a Cooperciclo hoje e um olhar no futuro (5 anos a frente): o que esperam da Cooperciclo nos próximos 5 anos. Para o presente documento e registro de memória usamos a técnica de apresentação das narrativas por fala dos atores entrevistados. Como optamos pelo anonimato, para fins de demonstração das narrativas, serão identificados simplesmente como Entrevistado 1; 2; 3 e 4.

Categoria 1: a cultura do cuidado e preservação do planeta

Entrevistado 1: Trinta anos trabalhando com reciclagem, completamente imersa na preservação da vida e do meio ambiente. A colaboração com a sociedade ajudando o meio ambiente trouxe ótimas experiências para ela, fez com que a paixão por reciclar aumentasse.

Entrevistado 2: Amor pela reciclagem, o lugar dela é reciclando e sempre foi o sonho ter uma reciclagem para a família. Começou reciclando com um carrinho coletando na rua e triando nos fundos da residência, com muito cuidado na organização e limpeza. Toda família ajudava, todos os dias, dia e noite.

Entrevistado 3: Acha bastante importante a reciclagem do material para salvar o meio ambiente. Ele se considera um contribuidor ao meio ambiente.

Entrevistado 4: Para ele preservar o planeta em primeiro lugar é o sustento dele e sua família, em segundo lugar a sobrevivência do planeta e de futuras gerações. Gostaria de poder alcançar mais pessoas com suas mensagens sobre a preservação do meio ambiente, acredita que reciclar e preservar sejam chaves para saúde e longevidade.

Categoria 2: percepção sobre a Cooperciclo

Entrevistado 1: Acredita ser uma ótima forma de conseguir melhorar sua vida. Tem fé que a transparência da gestão favorecerá a vida deles, sente que não serão mais roubados que esta mais segura na cooperativa.

Entrevistado 2: Vai resolver a situação do meio ambiente, através da reciclagem dos materiais. Vai ser uma coisa boa para os catadores e a sociedade no geral. A Cooperciclo vai divulgar mais e as pessoas terão outra visão, vão acreditar e respeitar mais, terão mais consciência e se interessarão pela correta segregação, melhorando o material a ser trabalhado, mudando a situação financeira dos catadores e diminuindo a quantidade de horas trabalhadas por dia. A Cooperciclo terá uma visão de empresa, com respeito aos filiados. Se sente parte do empreendimento.

Entrevistado 3: Considera que irá melhorar bastante a situação atual da vida, tanto em salário, qualidade de vida, qualidade dos resíduos. A Cooperciclo vai dar oportunidade de trabalho digno.

Entrevistado 4: Acredita muito na ideia de cooperativa, para ele Deus colocou a cooperativa no caminho deles para salvá-los. Ele tem receio quanto a mão de obra, acha que será um grande desafio conseguir pessoal para trabalhar na triagem.

Categoria 3: um olhar para daqui a 5 anos

Entrevistado 1: Muito progresso, sente que poderá até se aposentar com tanta prosperidade. A dificuldade que já passou será retribuída com ótimos resultados no futuro.

Entrevistado 2: Enxerga ela como uma empresa muito grande e produtiva, vai ser uma família, acolhendo todos que quiserem colaborar, sendo divulgada em todos os lugares.

Entrevistado 3: Acha que vai crescer muito e aumentar muito o trabalho e visibilidade.

Entrevistado 4: Imagina muita prosperidade e sucesso. A colheita do fruto, a grande resposta que comprova que o seu sofrimento não foi em vão. Ele acredita que estaremos todos ganhando remunerações bastante generosas. Espera que a infraestrutura da cooperativa tenha crescido muito, com posse de caminhões, estoque e produção.

3.2.4 Percepções de confiança: formação de redes de sustentação

A prática cooperativista traz em sua essência o bem comum, a partir de vivências colaborativas desenvolvidas na cotidianidade destes empreendimentos. O grande desafio da Cooperciclo vem sendo o despertar para o entendimento de todos os cooperados para o significado de uma cooperativa. São décadas de subjugação destes sujeitos aos diferentes agentes que lhes subtraíram liberdades e, portanto, os privaram de desenvolver suas reais capacidades. Fazer parte de um empreendimento e compreender-se parte dele perfaz ações diárias que envolvam os cooperados na gestão da cooperativa. É o que os manuais do cooperativismo denominam como autogestão ou gestão democrática, usando a linguagem dos sete princípios do cooperativismo.

Ações que denotam a autogestão na Cooperciclo:

São práticas que paulatinamente vem desenvolvendo a confiança dos cooperados no empreendimento de que fazem parte e vem gerando maior autonomia deles para a tomada de decisão. Esta junção entre a busca pela identidade cooperativista e a atuação da cooperativa como negócio vem criando uma espécie de teia de confiança entre diferentes segmentos que fazem parte da cadeia produtiva da Cooperciclo.

Se pode afirmar que esta teia de confiança percebida entre os diferentes sujeitos e atores envolvidos de forma direta e indireta no objeto de negócio da Cooperciclo, vem sendo exemplo de prática do sétimo princípio do cooperativismo. Este princípio traduz a essência de uma cooperativa de trabalho que presta serviços ambientais e sociais, uma vez que, ao fazer interlocuções com a comunidade se coloca como agente multiplicador de sinergias positivas que são capazes de promover o desenvolvimento local e regional.

Ao longo destes primeiros meses de operação da Cooperciclo, foi possível reunir materialidade desta rede de confiança, os quais foram sendo conquistados a partir da demonstração de um trabalho que comunga com com as diretrizes de modelos de negócios voltados a uma visão de mundo que visa recuperar a histórica destruição ambiental introduzida, especialmente a partir da primeira Revolução Industrial e que trouxe a base para o modos operanti da Indústria com o método de Obsolescência Programada, que consiste em estabelecer o término do ciclo de vida útil das mercadorias para que se tornem obsoletas, criando, portanto novas e permanentes necessidades de consumo. Este modelo que enxerga o lado da demanda como propulsora do crescimento das economias, vem gerando, contudo, um ônus que é fator explicativo ao verdadeiro caos gerado pelo acúmulo de resíduos  na natureza. Cenário caótico que não pode mais ser ignorado e traz a urgência de reversão deste ciclo perverso de destruição.

Nesse sentido, a Coopeciclo vem sinalizando aos seus diversos parceiros, clientes e apoiadores de que a causa ambiental se apresenta como uma ação necessária e somente pode ser materializada com a participação e engajamento  do coletivo.

Abaixo apresentamos as logomarcas dos parceiros e apoiadores que já compreenderam nosso modelo de negócios e se uniram de alguma forma para fortalecer nossas ações e acelerar os processos que são a razão de existir da Cooperciclo.

3.3. Resultados Ambientais da UT Veranópolis

O objetivo desta sessão é detalhar os ganhos ambientais obtidos na cidade de Veranópolis/RS, após a instalação da usina de triagem de resíduos sólidos urbanos, realizando um diagnóstico comparativo com os dados históricos do município e a realidade descrita em documentos oficiais de outros municípios do Brasil.

3.3.1. Licenciamento Ambiental e gestão de resíduos

A COOPERCICLO possui Licença de Operação em vigor, LOR Nº 029/2023 – SMAMA, para a atividade de TRIAGEM E ARMAZENAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS CLASSE IIA E IIB, contando com assessoria e consultoria ambiental mensal, cumprindo com o atendimento de todas exigências solicitadas pelo órgão ambiental.

Ademais, todo o resíduo recebido na planta passa por caracterização, de acordo com a legislações e normas técnicas vigentes, verificando sua classificação, a correta segregação, acondicionamento e destino final, sempre priorizando a inserção na cadeia produtiva da reutilização, reprocessamento ou reciclagem.

Anteriormente à instalação da Usina, as 03 associações possuíam licenças individuais e em vias de vencer. Não havia o cumprimento de exigências ou das condicionantes impostas, sem qualquer acompanhamento de responsável técnico.

Também, não ocorria a correta gestão de resíduos, sendo que o destino principal era a disposição em aterro sanitário, não ocorrendo a procura de mercados ou empresas com tecnologias inovadoras que possuíssem interesse na aquisição do resíduo em forma de matéria-prima. Dentro deste cenário, também não ocorria a gestão dos resíduos perigosos (Classe I) recebidos da coleta pública.

3.3.2. Rastreabilidade dos resíduos

A COOPERCICLO filial UT Veranópolis possui cadastro no sistema de MTR, como geradora, transportadora e destinadora, preconizando sempre a emissão de MTRs em todas coletas e destinações realizadas, contribuindo assim para a rastreabilidade dos resíduos.

Além do que, a unidade da COOPERCICLO filial cadastrada no sistema de MTR atualiza mensalmente a emissão dos respectivos Certificados de Destinação de Resíduos (CDFs) e trimestralmente os Demonstrativos de Geração, Transporte e Destinação de Resíduos (DMRs).

Quando da existência das 03 associações individuais, não havia nenhum sistema de controle dos resíduos recebidos ou comercializados. Mesmo que indústrias e ou/prestadores de serviços quisessem proceder com a destinação dos seus resíduos para as associações, haviam empecilhos da legislação e da responsabilidade compartilhada que impediam.

3.3.3. Realização de gravimetria

A gravimetria é uma ferramenta essencial para entender a composição dos resíduos oriundos das coletas seletivas, ajudando a identificar quais são os materiais presentes e em quais quantidades, fornecendo informações para planejar estratégias eficazes de gestão dos resíduos.

Em setembro de 2023, a COOPERCICLO executou o plano técnico de gravimetria e obteve como resultado a composição gravimétrica apresentada na Figura 07:

Figura 07 - Porcentagens e quantidades dos resíduos da coleta seletiva pública municipal 

Em resumo, de acordo com a gravimetria realizada, o resíduo sólido urbano disposto para a coleta seletiva possui uma composição de apenas 56,65% de materiais passíveis de reciclagem e 43,35% de orgânicos/rejeitos. Indicando a necessidade de programas de educação ambiental para a segregação adequada dos resíduos por parte da população, além da conscientização sobre a participação de todos para a efetividade da coleta seletiva, e consequente valorização dos resíduos recicláveis.

De acordo com estudos anteriores, relatados por Motta et al., (2011), no ano de 2011, a quantidade estimada de geração de resíduos seletivos no município de Veranópolis/RS, era de 12 toneladas por mês no município de Veranópolis, sendo que, eram enviados mensalmente à Associação de Recicladores 2,8 toneladas de resíduos não recicláveis. Ou seja, uma taxa de orgânicos/rejeitos de apenas 18,92% do que era recebido nas associações de triagem.

Já, o Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos, elaborado pelo CISGA, no ano de 2018, retrata, através de dados comparativos com municípios próximos e de mesmo porte, que a taxa de orgânicos/rejeitos na coleta de resíduos recicláveis é de apenas 14,75% (CISGA, 2018).

Diante do exposto, percebemos que os dados obtidos mediante estudos comparativos, ou análises antigas, estão em desacordo com a realidade encontrada mediante o desenvolvimento de um plano de amostragem executado com dados mais próximos da realidade possível. É de extrema importância que os gestores públicos trabalhem com dados primários e atualizados, apenas dessa forma, serão tomadas estratégias de gestão eficientes e eficazes.

3.3.4. Índices de reciclagem obtidos

Possuir referências reais e oficiais, deixando explícito as quantidades de materiais comercializados e os índices de reciclagem é uma realidade distante de ser observada nos municípios. Após a instalação da UT COOPERCICLO filial 01 em Veranópolis, o município passou a ter dados concretos da sua gestão de resíduos sólidos urbanos.

De acordo com dados fornecidos pela Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente (SMAMA), no ano de 2023, durante os meses de maio a novembro (período de operação da usina de triagem), foram destinados para aterro sanitário 3.614.200 toneladas de resíduos sólidos. Neste mesmo período de funcionamento a UT reciclou 267,07 toneladas, com uma geração total de resíduos de 3.881.269 neste período, onde temos um índice de 7,39% de recuperação de recicláveis.

Destaque para o sétimo mês de operação da usina, mês de novembro, considerado como o primeiro mês após o período de ajustes e adaptações previstos no projeto (6 meses a partir de 2 de maio de 2023). No 7º mês a usina comercializou 67,62 ton de resíduos, correspondendo a 12,5% da totalidade de resíduos gerados do mês (540,83 ton de orgânicos/rejeitos).

A taxa de recuperação de recicláveis de 7.39% obtida no município de Veranópolis/RS, no ano de 2023, quando comparada aos valores divulgados no Plano Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2022) para as capitais brasileiras, no ano de 2018, chama muito atenção.

Na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, a taxa é de 2,16%. Na capital Curitiba, considerada como a mais sustentável da América Latina, o índice de reciclagem é de 2,01%. Em outra capital do Sul do Brasil, Florianópolis, a taxa é de 4,55%. Olhando para o Estado São Paulo, principal centro financeiro do Brasil, São Paulo capital recicla 0,88% dos seus resíduos (BRASIL, 2022).

3.3.5. Parcerias inovadoras

No ano de 2023, a COOPERCICLO, através de sua gestão, firmou duas parcerias de extrema importância para fortalecer a busca constante pela inovação e melhoria contínua na área ambiental.

A primeira, na área de créditos de reciclagem. Publicada em 09 de novembro de 2023, a Resolução CONSEMA nº 500/2023, estabelece diretrizes e critérios gerais que regulamentem e estimulem a prática da logística reversa no Estado do Rio Grande do Sul, onde fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos que, após uso pelo consumidor, geram embalagens em geral como resíduos, são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa.

Dessa forma, tendo em vista a legalidade das operações da usina de triagem e atendimento de todas as regulamentações solicitadas, a COOPERCICLIO firmou parceria com empresa AMPIPAR VIRASER, entidade gestora de sistemas de logística reversa de embalagens em geral, sendo que, no ano de 2023 já validou 218,9 ton de resíduos comercializados, gerando o mesmo quantitativo de créditos de reciclagem que poderão ser utilizados nos Planos de Logística Reversa.

A segunda parceria é na área de créditos de carbono, outra questão ambiental que está sendo consolidada no Brasil. A COOPERCICLO institui termo de parceria com a empresa FOX ECONOMICA CIRCULAR, do Estado de São Paulo, com o intuito de proceder com a destinação dos resíduos eletrônicos em fim de vida útil coletados em diversos municípios do Rio Grande do Sul. Esses resíduos serão processados e os gases oriundos deste processamento, receberão o devido tratamento, ocorrendo a conversão em créditos de carbono.

CONSIDERAÇÕES GERAIS: agradecimento, LGPD, Sigilo e Confidencialidade

Agradecemos a oportunidade proporcionada à Cooperciclo e reforçamos neste cenário nosso comprometimento e profissionalismo perante as entidades públicas e privadas destinatárias do presente Relatório Operacional ESG Cooperciclo.

Na Cooperciclo, acreditamos que tem os experiência pelas informações elencadas neste relatório, necessárias para a construção de uma parceria estratégica e sustentável.

Outrossim, os dados pessoais que por ventura, lhes sejam transmitidos serão tratados em conformidade com as normas, regulamentos e principalmente a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei Federal 13.853/2019), além de resoluções, portarias ou normas adotadas pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados.

Registramos, que as informações contidas neste relatório são estritamente CONFIDENCIAIS e SIGILOSAS pertencem à Cooperciclo. Qualquer divulgação, reprodução, cópia ou distribuição total ou parcial do mesmo é proibida, não podendo ser utilizado o seu conteúdo para outros fins sem a prévia autorização da Cooperciclo.

REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Qualidade Ambiental. 

Plano Nacional de Resíduos Sólidos –PLANARES. Brasília, DF: MMA, 2022.  209 p.03


CISGA. Plano Intermunicipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – PIGIRS. Garibaldi, 2018. Disponível em: https://xadmin.s3.us-east-2.amazonaws.com/260/PhotoAssets/201419/images/original/419f8ec37001d1f19794fda21d37dc26-compactado.pdf. Acesso em: 28 jan. 2024.


CONAMA. Resolução nº 491  de novembro de 2018. Diário Oficial da União, 2018.

DRUCKER, Peter F. A Administração na Próxima Sociedade. NOBEL: 2003.

MOTTA, Elis Marina Tonet et al. Avaliação preliminar da composição gravimétrica do RSU do município de Veranópolis com vistas à elaboração do Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos. XIX Encontro de Jovens Pesquisadores I Mostra.

Acadêmica de Inovação e Tecnologia, Caxias do Sul, nov. 2011.

IPEA. Apenas 13% dos resíduos sólidos urbanos vai para reclicagem. Publicado em Institututo de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/categorias/45-todas-as-noticias/noticias/2841-apenas-13-dos-residuos-solidos-urbanos-vao-para-


WWF. Solucionar a poluição plástica - Transparência e responsabilização. Disponível em: https://promo.wwf.org.br/solucionar-a-poluicao-plastica-transparencia-e-responsabilizacao

SCHNEIDER, José Odelso. Cooperativismo e desenvolvimento sustentável. Otra Economía, v. 9, n. 16, p. 94-104, 2015.

SCHNEIDER, José Odelso. Cooperativismo e desenvolvimento sustentável. Otra Economía, v. 9, n. 16, p. 94-104, 2015.


Legislação consultada: 

Âmbito Federal:

Constituição Federal De 1988;

Lei N° 9.795/1999 – Política Nacional De Educação Ambiental;

Lei Nº 12.305/2010 – Política Nacional De Resíduos Sólidos;

Decreto Nº. 10.936/2022 – Regulamenta A Lei 12.305/2010;

Decreto Nº. 11.413/2023 – Institui O Certificado De Crédito De Reciclagem e Logística Reversa, Certificado de Estruturação e Reciclagem de Embalagens em Geral e Certificado de Crédito de Massa Futura

Lei N° 14.260/2021 – Estabelece Incentivos À Indústria Da Reciclagem E Cria O Fundo De Apoio Para Ações Voltadas À Reciclagem (Favorecicle) E Fundos De Investimentos Para Projetos De Reciclagem (Prorecicle); (ainda em apreciação no congresso)

Lei Nº 14.026/2020 – Marco Legal Do Saneamento Básico;

Lei Nº 6.938/1981 – Política Nacional De Meio Ambiente;

Lei Nº 9.605/1998 – Crimes Ambientais;

Lei Nº 12.187/2009 – Política Nacional De Mudanças Do Clima;

Decreto Nº. 7.405/2010 – Programa Pró-Catador E Comitê Interministerial Para  Inclusão Social E Econômica Dos Catadores De Materiais Recicláveis;

Lei Nº 10.257/2001 – Estatuto Das Cidades;

Lei N° 13.089/2015 – Estatuto Da Metrópole;

Lei Nº 11.107/2005 – Normas Gerais De Contratação De Consórcios Públicos E Dá Outras Providências;

Decreto Nº 6.017/2007 – Regulamenta A Lei N° 11.107/2005;

Lei Nº 13.576/2017 – Política Nacional De Biocombustíveis (Renovabio);

Lei Nº 14.134/2021 – Marco Regulatório Do Gás Natural;

Lei Nº 14.133/2021 – Lei De Licitações E Contratos Administrativos;

Lei Nº 5.764/1971 – Política Nacional Do Cooperativismo;  

Lei Nº 12.690/2012 – Programa Nacional De Fomento Às Cooperativas De Trabalho.


Âmbito Estadual:

Constituição Estadual De 1989;

Lei No 15.434/2020 – Código Estadual Do Meio Ambiente Do Estado Do Rio Grande Do Sul;

Lei No 14.528/2014 – Política Estadual De Resíduos Sólidos;

Lei No 14864/2016 – Política Estadual do Biogás e do Biometano, o Programa Gaúcho de Incentivo À Geração e Utilização de Biogás e de Biometano – RS-Gás.

Lei No 11.853/2002 – Pró-Social;

Lei No 13.924/2012 – Sistema Estadual De Apoio E Incentivo A Politica Estratégica;

Lei No 14.040/2012 – Fundo Estadual De Apoio A Inclusão Produtiva;

Lei No 15.449/2020 – Altera A Lei 13.924/2012;

Lei No 15.651/2021 – Incentivos A Projetos De Reciclagem;

Lei No 15.786/2021 – Altera As Leis 15.651/21, 11.853/2002, 14.040/2012.


Âmbito Municipal:

Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (CISGA, Consórcio em vigor)

Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos PIGRS 2018, Global Engenharia Ambiental LTDA. (CISGA)

DOCUMENTOS